As marcas da erupção de criovulcões no planeta anão Ceres ajudaram os cientistas a provar que, debaixo da superfície gelada do planeta, existe um oceano “quase eterno”, comunicou a revista Geophysical Research Letters.
“Os criovulcões [vulcões que expelem substâncias como água, amoníaco ou metano em vez de lava] podem ser um dos refúgios principais da vida no Universo. Por essa razão nós tentamos entender como funcionam as fontes de água que os alimentam e se escondem debaixo da superfície gelada de planetas e como elas se comportam”, declarou Marc Hesse da Universidade do Texas, EUA.
As primeiras imagens de Ceres obtidas pela sonda Dawn em 2015 mostraram duas estruturas extraordinárias inesperadas: misteriosas manchas brancas na cratera Occator, que serão vestígios salinos desse oceano, e um monte piramidal, Akhun, de 4 km de altitude.
Posteriormente, os investigadores descobriram que o Akhun é um antigo criovulcão extinto, e que as manchas brancas são vestígios da erupção de vulcões semelhantes. Além disso, em outras regiões os cientistas encontraram depósitos de gelo “limpo”, que indicam que a superfície de Ceres se renova constantemente, já que esse gelo devia se ter evaporado há muito tempo.
Tais descobertas fazem com que os cientistas suponham que no subsolo do planeta anão pode haver um oceano (congelado ou não), constituído por uma espécie de salmoura ou por água, aquecida por uma fonte ainda desconhecida.
Segundo Hesse, os planetólogos têm discutido sobre a existência de água líquida em Ceres, se acreditarmos nos cálculos, essa água duraria apenas algumas centenas de milhares de anos antes de congelar completamente. Tal não corresponde aos dados segundo os quais as manchas brancas surgiram na cratera Occator há relativamente pouco tempo, ao passo que ela mesma apareceu uns 30 milhões de anos atrás.
Hesse e seus colegas desvendaram a enigma, examinando a composição química das erupções de “magma de água” e suas caraterísticas físicas e das rochas de Ceres.
Os cientistas criaram um modelo de computador do subsolo do planeta e avaliaram o seu comportamento sob a influência do Sol e do metano no suposto oceano e nas rochas de Ceres.
Foi descoberto que o “magma de água” dos criovulcões solidificava mais lentamente do que se pensava antes: ele permanecia líquido durante 6-10 milhões de anos depois da formação. A velocidade do seu esfriamento dependia da concentração da salmoura — quanto mais água tivesse, mais lentamente ele perdia o calor.
Segundo Hesse, isso significa que, a grande profundidade debaixo da cratera Occator, existe um depósito de água. Ele não podia surgir em resultado do impacto de um asteroide, por isso a sua formação não pode ser explicada sem a presença de um grande oceano no manto do planeta.
Esse oceano, por sua vez, caso a sua água tenha a mesma composição, existirá quase eternamente graças às altas temperaturas e pressão nas profundidades de Ceres. Os cientistas esperam que as imagens obtidas pela sonda Dawn nos últimos meses da sua vida ajudem a verificar essa hipótese.
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